Aos 11 anos, fez um casting para a telenovela ‘Amanhecer’ e foi escolhida. Ser actriz era um desejo que tinha?
Sara Barradas: Desde os meus cinco anos que sempre desejei ser actriz mas na altura era muito mais complicado chegar a este meio, pois não havia tanta divulgação. Por isso, quando, aos 11 anos, soube que ia haver um casting para uma novela quis logo ir.
Quando disse aos seus pais que queria fazer o casting qual foi a reacção?
Sara Barradas: Os meus pais lá me deixaram faltar à escola para ir ao casting mas não estavam com esperança nenhuma. Afinal, iam cinco mil pessoas e só ia ficar uma rapariga e um rapaz...
Soube logo que tinha sido escolhida?
Sara Barradas: Não, na altura pensei que tinha corrido bem mas não saí de lá assim com muita esperança, até porque eu não sabia quanto tempo demorava a selecção. Estava à espera de que me ligassem passadas uma ou duas semanas, por isso quando me ligaram dois meses depois eu já tinha metido na cabeça que não tinha sido a escolhida.
E quando lhe ligaram como foi?
Sara Barradas: Ligaram-me para casa a dizer que tinha sido escolhida para a nova telenovela do Tozé Martinho e que ia fazer de filha da Fernanda Serrano. Para mim, a Fernanda era um ídolo e eu não estava a acreditar naquilo. Paralisei completamente. Não dizia nada, pensava que estavam a brincar comigo.
Como é que foi, com 11 anos, entrar para o mundo das novelas?
Sara Barradas: A mim metia-me medo, porque era um mundo que eu não conhecia. Mas passados um a dois meses comecei a ambientar-me muito bem, até que já estava super à vontade. Até porque todos os meus colegas me tratavam muito bem: eu era a menininha, andavam comigo ao colo.
Conseguiu conciliar com a escola?
Sara Barradas: Por incrível que pareça, as minhas notas subiram, porque eu passei a estudar muito mais. Lembro-me de que era aluna de 3 e 4 e passei a ter 5. Mas faltava muito, de facto, e os meus professores penalizavam-me por isso.
Pelas faltas?
Sara Barradas: Sempre tive problemas na escola por causa dos meus professores. Eu nunca lhes pedia que me beneficiassem, só que não me dificultassem a vida. Isso não aconteceu: era sempre penalizada, e havia uma picardia entre professor/aluno muito estranha. Mas consegui passar sempre.
E os seus colegas de turma como lidavam com o facto de estar nas novelas?
Sara Barradas: Quando comecei a trabalhar, coincidiu com a altura em que estava a mudar de casa, portanto estava a deixar colegas meus e a fazer amigos novos, o que não foi muito bom. Porque na escola nova eu era a ‘Filomena’ de ‘Amanhecer’ em vez da Sara. Não tive amigos que acompanhassem essa passagem e pudessem perceber que eu não tinha mudado e continuava a ser a mesma. Eu, para os meus novos colegas, era a miúda das novelas, convencida e que tinha a mania de que era esperta. Sofri um bocadinho e foi mais difícil fazer amigos, porque havia quem se aproximasse por interesse.
Foi, de facto, complicado para si?
Sara Barradas: Foi, porque havia muitos comentários maldosos a meu respeito e, às vezes, era difícil ir à escola e ver toda a gente olhar-me de lado só porque estava na novela. Mas fui-me habituando, porque era aquilo que queria fazer, e tudo compensava.
E os seus pais, como reagiram quando viram que estava a ter sucesso?
Sara Barradas: Sempre me apoiaram, mas uma das condições que me impuseram para eu poder realizar este sonho era nunca perder nenhum ano nem baixar as notas. Assim que isso começasse a acontecer, diziam que já não me deixavam ir para as novelas. Aliás, foi esse medo e essa responsabilidade que fizeram com que me aplicasse ainda mais. Daí ter subido as minhas notas. Depois, viram que continuava a ser chamada para outros trabalhos e começaram a perceber que isto ia, realmente, ser a minha vida.
Privou-se, efectivamente, de muita coisa na adolescência?
Sara Barradas: Não sinto que perdi nada. Penso que nós, às vezes, desperdiçamos muitos momentos por os termos de mais, e eu, todos os que tive, vivi-os intensamente. Agora olho para trás e julgo que não deixei de fazer nada só porque trabalhei. Passei por tudo o que um adolescente tem de passar, só não dei dores de cabeça aos meus pais...
Sente que foi independente muito mais cedo?
Sara Barradas: Nem por isso, ainda continuo a viver com a minha mãe e até hoje não senti necessidade de sair de casa. Sempre tive liberdade e nunca tive de mentir à minha mãe para poder sair à noite.
Por ter chegado tão nova à televisão, era muito popular entre os rapazes da escola?
Sara Barradas: Não vou dizer que, se calhar, não houvesse um maior interesse da parte masculina na escola, porque achavam que eu era um alvo difícil de alcançar e, se calhar, tinham mais curiosidade em aproximar-se de mim. Mas não sinto que namorei mais ou menos por isso. Sinto que levei a minha vida normal e que tive os namorados que eu tinha de ter: nem a mais, nem a menos.
Actualmente, tem namorado?
Sara Barradas: Não, mas esse é um assunto do qual não gosto muito de falar.
O que um homem tem de ter para conquistá-la?
Sara Barradas: Acima de tudo, sinceridade, porque é uma coisa que eu tenho, e um grande sentido de humor, que eu sou uma pessoa bem-disposta e gosto muito de que me façam rir.
Preferia ter um namorado do mesmo meio profissional?
Sara Barradas: Por um lado, se calhar, torna-se mais fácil, porque essa pessoa conhece os nossos horários e sabe como é que as coisas funcionam. Por outro, não sei. Eu, até hoje, nunca tive nenhum namorado dentro do meio, mas dos casos que conheço uns dão-se muito bem, e até hoje estão juntos, outros as relações terminaram exactamente porque acaba por haver uma competitividade ridícula entre ambos.
Em ‘Morangos com Açúcar’ fez de uma adolescente rebelde que foi mãe muito nova. Isso despertou o instinto maternal?
Sara Barradas: Foi engraçado, porque eu vivi a gravidez da minha personagem do início ao fim e, como nós gravávamos muitos dias, eu passava muito mais tempo ‘grávida’ do que não. Havia colegas meus que até diziam que eu estava a interiorizar tanto aquilo que estava com uma espécie de gravidez psicológica, porque eu engordei seis quilos durante a suposta gravidez. Foi uma coincidência feliz, e posso dizer que foi um estágio.
Gostava de ser mãe?
Sara Barradas: Sim, apesar de ser um bocadinho medricas e ainda me assustar um pouco a possibilidade de ter filhos. Mas adorava passar por aquele processo maravilhoso que é um ser crescer dentro de nós e nascer. Gostava, obviamente, de passar por isso, mas só quero ser mãe quando chegar a altura certa e a pessoa certa.
E de casar, gostava?
Sara Barradas: Eu acho muito bonito o dia do casamento. Há uns tempos andava com umas ideias diferentes e dizia que não me queria casar mas penso que numa altura da vida a mulher sonha sempre com o dia do casamento. Não que ache isso muito importante numa relação mas é uma festa de celebração que é bonita. Se esse momento surgir na minha vida de certeza que vou estar muito feliz nesse dia. Se não surgir é porque não tinha de ser.
Quando terminar as gravações da telenovela ‘Flor do Mar’ vai estudar para Madrid. Vai-lhe custar sair da casa da mãe?
Sara Barradas: É a primeira vez que vou estar sozinha e sei que me vai custar chegar a casa e não ter a minha mãe para falar, não ter a comidinha feita. Por outro lado, sempre fui muito desenrascada, e julgo que vou estar à vontade com a lida da casa. É um passo que queria dar – e vai ser giro. Depois de Espanha, gostava de ir para Nova Iorque ou Brasil.
Há uns tempos, disse que havia drogas nas telenovelas, mas depois corrigiu e garantiu que tinha sido um mal-entendido. O que quis dizer, afinal?
Sara Barradas: O que eu disse foi que havia droga em todo o lado mas claro que no trabalho não há. Não tenho nada a ver com quem consome drogas mas nas novelas ninguém o faz, e eu disse isso. O que as pessoas fazem nas festas e na vida pessoal é com elas. Mas eu não quero estar a falar por ninguém nem pôr em causa o meu trabalho...
Nunca se sentiu, de facto, tentada por esse mundo?
Sara Barradas: Nunca. Eu não quero estar a julgar, mas não sei até que ponto é que as pessoas que precisam de drogas estão ou não fracas. Há sempre uma tentação, porque o Mundo está em crise, mas a droga não resolve nenhum problema. Eu, até hoje, nunca senti necessidade de experimentar. Sinto que não preciso disso para ser mais feliz ou mais alguém.
Não tem vícios?
Sara Barradas: Não fumo, não bebo, é raro tomar café, e posso dizer que só tenho um vício: o chocolate.
O que vê quando se olha ao espelho?
Sara Barradas: Vejo uma rapariga/mulher. Já não sou uma rapariga mas ainda não sou uma mulher, por isso estou naquele meio-termo, numa fase de transição.
Gosta do que vê?
Sara Barradas: Gosto, e julgo que isso tem tudo a ver com auto-estima. Quando nós nos sentimos bem connosco é tudo mais fácil.
Alguma vez lhe apeteceu partir o espelho?
Sara Barradas: Não, e nem tem a ver com superstição, simplesmente, nunca tive vontade de partir nenhum.
Quem gostaria de ver reflectido no espelho?
Sara Barradas: Eu penso que as características que definem cada pessoa é que fazem dela única, por isso não se deve tirar nem pôr mas sim moldar. Às vezes é bom limar algumas arestas mas gosto de ser como sou, por isso prefiro ver-me reflectida apenas a mim.
Pessoa de referência?
Sara Barradas: A minha mãe.
Momento marcante?
Sara Barradas: Já tive vários mas, profissionalmente, foi quando fui escolhida para fazer o meu primeiro trabalho, ‘Amanhecer’, e isso deu azo a tudo o resto. Aquele dia mudou a minha vida.
Qualidade e defeito?
Sara Barradas: A qualidade é a sinceridade, o defeito talvez seja o facto de ser demasiado orgulhosa.
Rute Lourenço (Jornal Correio da Manhã)
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